primeiro passo. O ideal, agora, seria esperar dois, três anos para ver como isso funciona
e, se for bem, estender a regra gradualmente para outros níveis de renda.
O FGTS vem sendo foco de diversas propostas de reformulação. O senhor defende
alguma?
Há muito tempo defendo a idéia de fundir o FGTS com o seguro desemprego com
novas regras de utilização e remuneração de mercado. Vejo que, recentemente, o Banco
Mundial fez essa proposta ao governo federal. Na área de proteção social, também se
fala no fim ou na reforma do abono e do seguro desemprego. A defesa é de evitar
duplicidades e focar em um sistema que privilegia a capacitação e reinserção do
trabalhador no mercado. O senhor está de acordo?
O seguro desemprego é essencial, mas precisa ser modulado. Não tem cabimento pagar
o mesmo valor do benefício para um jovem desempregado solteiro e um adulto
desempregado casado e com cinco filhos. Essa modulação precisa ser aprovada e
implementada no Brasil. Mas, é claro, nunca foi tão urgente investir na capacitação dos
seres humanos. As novas tecnologias desempregam quem tem pouca qualificação e
versatilidade e premiam os mais qualificados e capazes de se ajustar às demandas do
trabalho moderno. Nesse campo, não haverá saída: teremos de promover novas formas
de treinamento e a educação continuada, pois as mudanças tecnológicas são muito mais
velozes do que a capacidade de as escolas convencionais reformularem currículos e re
treinarem professores. Para acompanhar as mudanças, será necessário estudar a vida
toda.
Não tem cabimento pagar o mesmo valor do seguro desemprego para um
jovem solteiro e um adulto casado e com cinco filhos
Pensando no futuro das relações de trabalho mudado pela evolução tecnológica, o
que falta no debate brasileiro para adequá-lo a essas potenciais transformações?
O Brasil deu um grande passo ao criar as novas formas de contratação com a reforma
trabalhista - trabalho em tempo parcial, teletrabalho, intermitente, autônomo etc.
Todavia, para todas essas formas de contratação, a proteção só é garantida e a
contribuição previdenciária é arrecadada quando há vínculo empregatício. Isso precisa
mudar. Reconheço que o trabalho com vínculo empregatício continuará prevalecendo
por muito tempo no Brasil e no mundo. Mas ao lado dele crescem, a cada dia, as novas
maneiras de trabalhar. É o caso dos autônomos, dos que trabalham por projeto que tem
começo, meio e fim, dos que trabalham por demanda, dos que fazem trabalhos
compartilhados, dos que trabalham na gig economy, que incluem trabalhos casuais
realizados de forma descontinuada ou errática. Hoje cerca de um terço da força de
trabalho dos países avançados está nessa situação e isso aumenta também no Brasil em
decorrência, principalmente, do uso das novas tecnologias - digitalização, robotização,
inteligência artificial, sistemas de impressão 3D, big data, biotecnologia e outras.
Relações sem vínculo empregatício têm características bastante diferentes do emprego
convencional: são fluidas, voláteis e, por isso, não formam base fixa da qual se possam
extrair contribuições para aposentadorias e pensões. Entre os profissionais que