Porque, olhando para os países, você vai encontrar casos como EUA, Japão e
Alemanha, que usam novas tecnologias em grande profusão e têm um nível de geração
de emprego admirável, desemprego baixíssimo. A literatura mostra que na Alemanha,
por exemplo, a velocidade de entrada de robôs é igual ao surgimento de novos
empregos. Os EUA estão com 4% de desemprego.
O Japão também. Então, essa questão de que só destrói não é verdadeira, acho que há
empregos que são destruídos e outros que são criados, mas tem a grande maioria que se
transforma. Então, eu tendo a ter simpatia por isso porque acho mais realista.
Há diversas projeções divergentes sobre o impacto da tecnologia sobre o emprego.
Isso tira credibilidade do debate e gera mais confusão do que orientação?
Acho que as divergências que surgem só agravam a ansiedade que existe. Há muitas
estimativas diferentes, mas também estudos como o da OCDE (Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico, feito por pesquisadores da Áustria, que
dizem que a profissão não some. Então, quem é médico hoje vai continuar médico daqui
a 10 anos, 8 anos, mas o que ele vai fazer vai ser transformado.
Outros falam que não é questão de olhar para o saldo, vamos olhar o impacto que tem
na renda, que desiguala ou cria polarização porque destrói muitas atividades do meio e
preserva as pontas, as altamente especializadas e aquelas que não podem ser robotizadas
embaixo, que é o zelador, o garçom, a enfermeira, quem faz manutenção de
equipamentos. A questão da polarização é mais importante que olhar para o saldo,
porque demanda políticas específicas para lidar com suas consequências, como a
desigualdade de renda.
O senhor mencionou que as chamadas profissões do meio estão desaparecendo. O
que mais já se vê de transformação concreta?
Você vai ter mudança de funções de atividades a começar pela sua profissão de
jornalista. A sua profissão está cheia de novidades. Tem coisas de ponta hoje. É possível
escrever uma reportagem sem a participação do jornalista humano e isso tem sido feito
de forma intensiva.
Há advogados de ponta que fazem a petição deles em cima de um número monumental
de informações [levantadas por tecnologia] para fazer o melhor argumento possível. Na
medicina, há os médicos que confiam mais no diagnóstico feito por robôs e big data do
que no seu próprio. São transformações visíveis.
Isso também já é visto aqui no Brasil?
No campo industrial, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) tem algumas
pesquisas mostrando que menos de 40% das indústrias brasileiras estão na quarta
revolução industrial. Ou seja, a grande maioria ainda não chegou lá. E as que estão,
entram lentamente. Algumas com mais velocidade, outras mais devagar. No setor de
serviços, a coisa é diferente. No financeiro, que é um dos principais do segmento, a
velocidade é espantosa, de automação e inteligência artificial.
Hoje nos EUA o e-commerce é responsável pelo dobro das vendas do que há seis, cinco
anos atrás e tem lojas fechando até na Quinta avenida porque ninguém tem interesse em
comprar em uma loja e às vezes não tem condições de pagar aluguel caro. Aqui no
Brasil também está acontecendo isso, a penetração do ecommerce é muito rápida e
certos produtos, como material de escritório, livros, música, são mais comprados no
ecommerce do que em lojas físicas.