CORREIO BRAZILIENSE
01 de setembro de 2017
O relacionamento entre robôs e humanos
José Pastore
A s discussões sobre trabalho e automação estão ficando cada vez mais
intrigantes e interessantes. Para uns, os robôs precisam ser confiáveis para que os seres
humanos os adotem (“Intelligent robots must be trusted by humans”, Financial Times,
4/8/2017). Para outros, os robôs precisam compreender como os seres humanos
trabalham (“Robots must understand how people work”, The Economist, 19/8/2017).
Ou seja, as exigências no trabalho estão aumentando para os seres humanos e para as
máquinas. Um sofisticado robô chinês, quando perguntado se ele amava o Partido
Comunista, respondeu com um sonoro “não!” Foi descartado.
Outro, nos Estados Unidos, falhou em captar defeitos em uma linha de
montagem gerados por erros humanos. Foi abandonado. Isso parece conversa de ficção
científica, mas não é. A incorporação de inteligência artificial nos robôs ocorre em
velocidade meteórica e está revolucionando o mundo real. Na última semana, não
contente com a adoção dos automóveis sem motorista, a Inglaterra começou a testar os
caminhões autônomos. E quando isso chegar aos ônibus? O que farão os motoristas no
futuro? Os veículos movidos à eletricidade têm 90% menos peças do que os tocados a
derivados de petróleo e exigem menos trabalho.Inglaterra e França assinaram um acordo
para acabar totalmente com os veículos movidos a petróleo até 2040.
Na China, todos os táxis serão elétricos até 2020. O que será dos profissionais
que trabalham em montadoras? Ninguém sabe o que vai acontecer no mercado de
trabalho do futuro. Sabemos, com razoável precisão, quais empregos serão eliminados,
mas, ignoramos os que serão criados. Isso é angustiante para os empregados e para os
analistas do mercado de trabalho. Ninguém gosta de conviver com o desconhecido. O
que se tem nesse campo são teorias gerais ancoradas em dados históricos. Elas indicam
que os avanços tecnológicos do passado foram seguidos por mais empregos e não
menos. Nessa linha, citam os Estados Unidos que são, hoje, o país mais automatizado
do mundo e com apenas 4,5% de desempregados.
Mas, há os que vêem uma singularidade nas tecnologias atuais: elas estão
substituindo os seres humanos nas tarefas rotineiras e não rotineiras, como tem
ocorrido, ultimamente, com ensino a distância, tradução simultânea, diagnóstico
médico, processos judiciais etc. Além de desempregar pessoas qualificadas, registra-se
também o agravamento da má distribuição de renda como conseqüência da rápida
automação. Enfim, há teorias para todos os gostos. Mas uma coisa é certa. Terá mais
chance de sobreviver e crescer no trabalho quem for capaz de se ajustar ao novo mundo
tecnológico e, para isso, a educação de boa qualidade e continuada é essencial.
Recentemente, li um estudo que comprova, com base em uma pesquisa robusta,
que uma grande parte das profissões do futuro vai demandar não apenas bons
conhecimentos técnicos como também capacidade não cognitiva sintetizada por
intuição, empatia, perseverança, energia psíquica, estabilidade emocional e habilidade