CORREIO BRAZILIENSE
4 de agosto de 2017
O trabalho dos idosos
José Pastore
Os países que aumentaram a idade de aposentadoria vêm enfrentando o grave desafio de
garantir trabalho para os idosos. Esse será também o caso do Brasil se a reforma da
Previdência Social fixar a idade mínima em 65 anos. No texto aprovado na Comissão
Especial, a idade subirá ainda mais no futuro. Isso significa a necessidade de criação de
milhões de empregos para acomodar número crescente de idosos no mercado de
trabalho, pois a vida média das pessoas continuará aumentando de forma acelerada.
Segundo estimativas dos demógrafos, a criança que nasce nos dias de hoje nos países
avançados tem 50% de chance de viver além dos 105 anos. Cinqüenta por cento dos
jovens que têm 30 anos chegarão aos 100 anos. É a força da longevidade. O grupo que
mais cresce nos dias atuais é o que tem mais de 85 anos de idade (Lynda Gratton e
Andrew Scott, The 100 year life, Londres: Bloosbury Publisher, 2016).
A pergunta que os demógrafos colocam é dura, mas real: o que acontecerá com as
pessoas se a sua poupança acabar antes da sua morte? É claro que nenhum sistema
previdenciário terá capacidade de manter esses idosos aposentados, sem trabalhar. Eles
terão de trabalhar. E o que vão fazer? O primeiro desafio é garantir empregos para essas
pessoas. O segundo é dar a elas habilidades para trabalhar com as tecnologias do
trabalho moderno.
Para enfrentar o primeiro desafio, os países avançados criaram muito tempo formas
de trabalhar, como é o caso do trabalho intermitente, tempo parcial, terceirizado,
autônomo, teletrabalho e outros. Como é impossível acomodar todos os idosos em
trabalhos em tempo integral, eles trabalham nas formas acima indicadas. Dessa maneira
evita-se uma avalanche de idosos desempregados ou aposentados.
O segundo desafio se refere ao domínio das novas tecnologias do mundo digital. Até
pouco tempo, o maior impacto da automação se dava na indústria pela substituição dos
trabalhadores por robôs nas tarefas repetitivas. Hoje, as tecnologias dominam todos os
setores e afetam as pessoas e a própria sobrevivência das empresas. Nesse novo mundo,
os idosos estão sendo demandados a fazer o que não aprenderam na juventude. Não
outra saída: vida mais longa requer não apenas mais dinheiro, mas também flexibilidade
para dominar novos conceitos e novas maneiras de trabalhar.
As tecnologias modernas vêm sendo simplificadas para facilitar a aprendizagem dos
mais velhos. Reportagem recente da Revista Economist mostrou que 25% dos
motoristas de Uber nos Estados Unidos têm mais de 55 anos e a população
preferência a eles. Para dirigir veículos, eles tiveram de aprender a lidar com aplicativos
do mundo digital. O mesmo ocorre em várias outras atividades. Na Suécia, na Holanda,
na Inglaterra, nos Estados Unidos, na França, na Alemanha, na Espanha, na Itália e na
Grécia crescem a cada dia os cursos de treinamento em tablets para idosos.
A aprendizagem tem sido surpreendente. Com isso, eles vão se capacitando para
trabalhar no mundo tecnológico. Ao dominar o mundo digital, os idosos têm mais
chance de trabalhar nessas atividades (The Economist, The new old, the economics of
longevity, 8/7/2017).
O Brasil deu importantes passos no campo das novas formas de contratação com a
aprovação da Lei 13.467/2017, que instituiu a reforma trabalhista - trabalho
intermitente, tempo parcial, teletrabalho, autônomo, terceirizado etc. Falta agora
avançar no campo da simplificação das tecnologias e do treinamento dos idosos. Isso
será essencial para se enfrentar os desafios da longevidade, para equilibrar as finanças
públicas e para garantir condições ao crescimento econômico e à geração de empregos -
para jovens e para idosos.