O ESTADO DE S. PAULO
25 de maio de 2017
Abandonar o governo ou o País?
José Pastore
Leio na imprensa que grupos políticos aguardam a decisão do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) para desembarcar da base do governo Temer em vista do desgaste que
tomou conta da pessoa do presidente da República. Para eles, as reformas morreram.
Isso é mais grave do que a própria crise política.
Com quase 25% dos brasileiros desempregados ou subempregados, é inadmissível
pensar em abandonar as necessárias mudanças.
Tenho participado de várias discussões com deputados e senadores sobre as reformas. A
oposição tem sido aguerrida, buscando obstruir os trabalhos. Mas muitos
parlamentares decididos a tocar em frente. Noto neles uma compreensão clara de que é
impossível revogar as leis fundamentais da economia. Observo, ainda, um sentido de
urgência para fazer o Brasil voltar a crescer, controlando as contas públicas e criando
um ambiente favorável para a geração de empregos. Eles sabem que, sem mudanças, a
economia brasileira estará severamente comprometida por várias décadas.
São eles que vêm corajosamente defendendo as reformas, aqui exemplificados nos
deputados Rogério Marinho (relator da reforma trabalhista) e Arthur Maia (relator da
reforma Previdenciária). Com a mesma disposição, cito o senador Ricardo Ferraço, que,
a despeito da forte reação de colegas radicais, apresentou seu relatório sobre a reforma
trabalhista. A equipe econômica, igualmente, está firme no apoio às reformas.
Por isso, penso que um eventual desembarque de grupos de parlamentares do governo
atual não significará o abandono do Brasil. é grande o número de parlamentares
conscientes e que lutarão para evitar um mergulho do País no caos econômico.
Fala-se muito que os políticos brasileiros pensam nos próprios interesses. Não
descarto essa assertiva. Acrescento, porém, que um de seus mais altos interesses é o de
conseguirem se reeleger. Isso demanda devolver a esperança aos eleitores. É impossível
conquistar a sua simpatia se eles entrarem em colapso com a Nação.
Não subestimo a força do populismo para o qual o caos faz parte do quanto pior,
melhor. Penso, porém, que parcelas crescentes do povo vêm se esclarecendo a respeito
da inviabilidade de o Brasil crescer diante de tamanha falta de recursos públicos e
privados para investir e gerar empregos. Sinto que um bom número de parlamentares
pensa da mesma maneira e vem trabalhando seriamente para tirar o Brasil da atual
encruzilhada. No meu entender, eles terão força suficiente para levar as reformas
adiante, mesmo depois de eventuais rearranjos político-partidários. Eles não
abandonarão o Brasil. Uma coisa é abandonar um governo. Outra coisa, bastante
diferente, é abandonar o País.
Essa hipótese é impensável. Abandonar o País teria graves consequências para quem
pretende se reeleger em 2018. Não como convencer eleitores a votar no meio de
tanto desemprego e generalizada desesperança de quem está sendo obrigado a tirar seus
filhos da escola privada ou devolver a casa que comprou a duras penas, por
incapacidade de pagamento.
Em suma, penso que, após a decisão do TSE, o Congresso Nacional aprovará as
reformas. A trabalhista está na reta final no Senado Federal. A previdenciária entrará em
novo calendário na Câmara dos Deputados. Os parlamentares conscientes estão
mostrando que não darão as costas aos 14 milhões de desempregados e 12 milhões de
subocupados que sofrem num país que tem tudo para crescer e oferecer boas condições
de trabalho. Eles merecem um crédito de confiança.
*PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, É PRESIDENTE DO
CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMÉRCIO-
SP E MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS